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Segunda Ronda de Eleições Gerais no Brasil
Artigo 28 de Outubro de 2018
Segunda Vuelta de las Elecciones Generales en Brasil

Segunda Ronda de Eleições Gerais no Brasil

Um exemplo dos novos desafios da democracia

No domingo passado, 28 de Outubro, realizou-se a segunda volta das eleições presidenciais brasileiras, com resultados que deram a vitória a Jair Bolsonaro, candidato do Partido Social Liberal, com 56% dos votos contra 44% de Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores. Onze milhões de eleitores (9,5%) preferiram votar nulo ou em branco e 31 milhões (21,30%) abstiveram-se. Um recorde no Brasil, que já tinha mostrado os primeiros sinais de desafeição significativa em 2014, quando 27 milhões de eleitores se abstiveram.

Como assinalámos na primeira parte deste artigo (adicionar link), a reforma eleitoral aprovada em 2017, autorizou pela primeira vez que os candidatos e partidos pudessem financiar campanhas eleitorais na Internet. Para analisar esta primeira campanha eleitoral em redes brasileiras, extraímos 110.000 menções nos quatro dias anteriores à votação que incluíam os nomes dos candidatos Bolsonaro ou Haddad e palavras-chave relacionadas com as eleições.

Audição social com Graphext

No gráfico identificamos quatro grandes comunidades de utilizadores do Twitter, a comunidade à volta de Haddad em azul apresenta o maior volume de menções seguido pela comunidade formada pelos media em geral em laranja e em terceiro lugar a comunidade formada à volta de Jair Bolsonaro em verde.

Na análise, é possível identificar um crescimento na comunidade de utilizadores em torno de Haddad (aglomerado azul) em comparação com a nossa análise da primeira volta (adicionar link), sendo o candidato mais mencionado e aquele que obtém a maior redifusão das suas mensagens. Mas não nos devemos deixar enganar por este tipo de análise baseada no volume absoluto de seguidores, menções e retweets. A comunidade formada em torno de Haddad tem as características típicas de uma câmara de eco, com um nó central que tem um grande número de ligações, mas que no entanto tem um alcance muito limitado porque está isolada do resto da conversa social.

Análisis de la cámara de echo de Haddad realizado con Graphext
Análise do texto da câmara de eco de Haddad

A relação entre o número de nós e as ligações das diferentes comunidades confirma o efeito de câmara de eco na comunidade formada em torno do candidato Haddad.

Distribución de enlaces en las principales comunidades
Distribuição de ligações nas principais comunidades

Sustein (2001) definiu este efeito sob o nome de echo chambers, um fenómeno antigo e amplamente estudado que leva as pessoas de uma ideologia a informarem-se através dos meios de comunicação social sobre a mesma ideologia. O actual sistema de comunicação, dominado por algoritmos de personalização que tentam oferecer-nos informação de acordo com os nossos gostos e interesses, intensifica o aparecimento deste tipo de espaços fechados onde as opiniões são alimentadas e permanecem impermeáveis a opiniões de outro sinal, causando um efeito amplificado de polarização ideológica.

Outro facto relevante característico do actual sistema de comunicação é a importância dos chamados influenciadores nas redes sociais, que estão a emergir como actores essenciais em qualquer campanha de comunicação de massas. O exemplo mais surpreendente mas provavelmente o mais representativo deste fenómeno é o youtuber Felipe Neto, representado no primeiro gráfico pela comunidade em amarelo, que foi o quinto autor mais retweetado, ultrapassado apenas pelos dois candidatos, o meio de comunicação social Folha de São Paulo e o ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Joaquim Barbosa.

A campanha do Brasil é um bom exemplo dos novos desafios que a democracia enfrenta: campanhas nos meios de comunicação social difíceis de controlar, estratégias de desinformação envolvendo empresas internacionais, ataques reputacionais contra a autoridade eleitoral, e dificuldades em garantir a segurança num contexto de ameaças cibernéticas.

Sunstein, C. R. (2001). Echo Chambers: Bush v. Gore, Impeachment, and Beyond. Princeton: Princeton University Press.

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