
Primeira Volta das Eleições Presidenciais do Brasil
Análise da Conversa Social
A fim de compreender os argumentos que polarizaram a primeira volta das eleições brasileiras, foi analisada a conversa social nas semanas que antecederam o Dia das Eleições, a 7 de Outubro. Esta análise permitiu-nos visualizar as principais comunidades de utilizadores digitais e os argumentos que as sustentam.
O crescimento supostamente orgânico e a predominância de comunidades pró-Bolsonaro nas redes sociais do Brasil - o próprio Bolsonaro reconheceu que as redes sociais são em grande parte responsáveis pela sua liderança nas sondagens - levantou suspeitas entre os jornalistas e o próprio Tribunal Superior Eleitoral porque não há correlação com as despesas de campanha declaradas. Enquanto o partido de Haddad é o que declarou mais despesas para "Promoção de conteúdo na Internet", com um total de R$1.013.000,00, o partido de Bolsonaro declarou apenas R$115.000,00 em despesas para "Criação e inclusão de páginas na Internet" [1].
Após análise da relevância dos candidatos Bolsonaro e Haddad nas diferentes comunidades, a análise permite-nos tirar algumas conclusões:
- Jair Bolsonaro
Tem um maior impacto nas comunidades representadas pelas cores vermelha e azul. Em termos de localização dos autores, Jair Bolsonaro tem uma presença média superior à dos restantes candidatos no Rio de Janeiro, estado onde o Partido dos Trabalhadores ganhou em 2014 e onde a diferença de votos em relação a 2014 tem sido muito elevada.
Em termos do sentimento da conversa, a análise mostra um sentimento mais positivo em relação a este candidato, com argumentos denunciando a perseguição por parte dos meios de comunicação social e apelando ao fim da corrupção.
- Fernando Haddad
Tem um maior impacto nas comunidades representadas pelas cores azul, laranja e roxo e uma representação superior à média nos estados de São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco e Bahia.
Em Pernambuco, o estado onde o Partido dos Trabalhadores foi o mais votado na primeira volta, encontramos menções com um elevado sentimento positivo em relação a Fernando Haddad, especialmente no conteúdo emitido pelos estudantes.
Quanto ao estado da Bahia, outro estado onde o Partido dos Trabalhadores tem mantido a sua presença, destaca-se a elevada presença de conteúdos a favor de Jair Bolsonaro, com campanhas como #mulheresconBolsonaro e #todosconBolsonaro. Apesar de ter um maior volume de menções, este conteúdo alcançou menos impacto e alcance, em termos relativos, do que a conversa que mencionou Fernando Haddad.
Estes dois estados são uma excepção e não parecem ter gerado impacto suficiente para influenciar o resto da comunidade, uma vez que o sentimento negativo em torno de Haddad é mais elevado nas menções gerais. Os argumentos que provocam este sentimento referem-se principalmente a casos de corrupção.
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A análise da conversa social também nos permite detectar as linhas temáticas em que a conversa em cada comunidade se baseia:
Comunidade azul: Uma comunidade que apoia mais o candidato Jair Bolsonaro e usa o argumento da corrupção na oposição.
Nesta comunidade, a conversa em torno de Jair Bolsonaro é ligeiramente mais positiva do que a de Fernando Haddad, cujas menções se encontram a um nível neutro de sentimento. A conversa sobre ambos os candidatos é mais localizada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, embora com um volume de menções que favorece Jair Bolsonaro.
Em termos de impacto, medido numa escala de 0 a 100, a conversa em torno de Jair Bolsonaro está na escala 40-55, enquanto que a referente a Fernando Haddad é um pouco mais baixa, entre 30-40 pontos.
Comunidade laranja: Esta é uma comunidade que não é explicitamente a favor de Jair Bolsonaro, mas que critica a campanha de Fernando Haddad e rotula algumas das suas acções nas últimas semanas como sendo vitimizantes.
Comunidades verdes e violetas: Uma comunidade que ganhou relevância nas últimas semanas, na sequência das últimas acções do magistrado Sérgio Moro. É uma comunidade com argumentos muito polarizados: parte da comunidade reforça o argumento da corrupção e a outra parte denuncia as acções do magistrado Sérgio Moro e o impacto que poderiam ter tido alguns dias antes das eleições. Este último torna-se o argumento exclusivo da comunidade representada pela cor verde.
Este tipo de análise permite-nos detectar as linhas de argumento que movem diferentes grupos de utilizadores em redes sociais a favor ou contra um candidato, tais como: linhas de positividade ou negatividade, argumentos de comunidades promotoras e detractoras, principais líderes de influência, geolocalização dos argumentos e nível de impacto e alcance gerado.
A análise permitiu detectar três comunidades principais: uma primeira comunidade com uma conversa a favor de Jair Bolsonaro, uma segunda com um volume mais elevado referindo-se a Fernando Haddad, embora com predominância de sentimentos negativos, e uma última em torno da figura de Sérgio Moro, o magistrado que liderou a Operação Lava Jato contra a corrupção no governo do ex-presidente Lula.
Em suma, tanto em termos de volume, impacto e sentimento, pode afirmar-se que as comunidades de utilizadores que participaram na conversa social nesta primeira ronda foram mais favoráveis à candidatura de Jair Bolsonaro do que à de Fernando Haddad.
[1] Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais Eleição Geral Federal 2018 http://divulgacandcontas.tse.jus.br
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